Eu acabei nem falando nada aqui, mas eu tô meio que trabalhando num Hospital Psiquiátrico. Na verdade é numa residência terapêutica dentro do Hospital. É um lugar de transição, pra onde os menos comprometidos vão antes de terem alta. Só que nem funciona direito, eu acho. A idéia é ótima, mas na prática não tá indo muito bem. A casa tem tipo 8 residentes. Mas um é surdo-mudo, que voltou pro Hospital. Outro também voltou, porque ficou catatônico. Dois outros não querem saber de fazer nada. Eu e outro estagiário ficamos um mês trabalhando com 4 deles, pra fazer a decoração da festa junina, que vai ser domingo. E ontem foi o último encontro, antes da festa. Resolvemos fechar com chave de ouro. Levamos eles pra passear no Pico do Jaraguá, que é muito perto do Hospital. Fomos de kombi e tudo. Me senti a Valerie. Eu fiquei muito frustrada com esse grupo. Olha Porto Alegre eu tô decepcionada. Porque é muito mais difícil mexer com grupo, ainda mais de psicóticos preguiçosos. Porque a gente nota que a maioria não quer trabalhar com a gente por preguiça. Mas ao mesmo tempo, aqueles 4 ficaram firmes (às vezes tremendo) e fortes (às vezes em surto). Eu fui pra lá porque o meu paciente do começo do ano (era um só, 20 anos, bi, fã da cultura gótica, gostava de vinho...) tipo sumiu. Parou total com o tratamento, inclusive medicamentoso. Aì deve estar vagando pela cidade, sem rumo, como fez quando tava em surto. Mas era muito bom sair com ele. Ele era ótimo pra se acompanhar. Só pra lembrar, o estágio é de Acompanhamememememento Terararararapêutico. E na residência terapêutica, nem rolou de a gente sair. Só no último dia. Mas enfim, comecei tudo isso pra contar que fui pro Pico do Jaraguá pela primeira vez na vida. E subi os 242 degraus. Morrendo, com falta de ar e dor em tudo que é lugar. A vista compensa. Ai meu deus. A cidade inteira, ali. Fazendo um chiado muito silencioso. A camada de poluição. As montanhas. As árvores. Meu deus, quanta árvore tem. Aí, no alto de sua sabedoria, um residente fofo virou pra mim e disse: "AHAHAH. Lê aqui ->" e apontou pro corrimão. "EU AMO COCAÍNA". Né?